Polêmica fabricada: fotógrafo alimenta narrativa de censura em gol de Memphis que nunca existiu

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O futebol brasileiro vive de debates, mas também sofre com a criação artificial de polêmicas que não se sustentam nos fatos. Foi o que aconteceu após o primeiro jogo da semifinal da Copa do Brasil entre Cruzeiro e Corinthians, quando um vídeo gravado por um fotógrafo passou a ser tratado como “prova” de um suposto toque de mão de Memphis Depay no gol corintiano.

O lance, revisado pelo VAR dentro das possibilidades técnicas disponíveis, não teve irregularidade confirmada. Ainda assim, um registro feito de um ângulo alternativo — fora do padrão oficial de arbitragem — viralizou nas redes sociais e foi rapidamente explorado como indício de erro grave, mesmo sem valor protocolar para decisão de jogo.

A falsa polêmica ganhou um novo capítulo quando o autor do vídeo, o fotógrafo Cristiano Sevieri, afirmou nas redes sociais que teria ficado sem credencial para o jogo da volta, na Neo Química Arena, sugerindo uma espécie de retaliação ou censura. A narrativa encontrou terreno fértil em um ambiente já contaminado por desconfiança e teorias conspiratórias.

O que não foi dito naquele momento, porém, é o que muda completamente o entendimento do caso.

Após a partida de volta — vencida pelo Corinthians nos pênaltis — o próprio fotógrafo esclareceu que a situação não teve qualquer relação com censura, punição ou interferência da CBF ou do clube. Segundo ele, a CazéTV, veículo para o qual trabalha, não possui credenciais suficientes para todo o staff em jogos de grande porte, algo comum em finais e semifinais de competições nacionais.

Ou seja: não houve veto, perseguição ou tentativa de silenciamento. Houve apenas uma limitação operacional de credenciais, prática recorrente e conhecida por profissionais da área.

O problema é que esse esclarecimento só veio depois que a narrativa de censura já estava consolidada, alimentada inclusive pelo próprio silêncio inicial e por publicações que deram margem à interpretação mais sensacionalista possível. Durante dias, parte da opinião pública foi levada a acreditar que o fotógrafo havia sido “punido” por mostrar uma verdade inconveniente — algo que, nos fatos, nunca se comprovou.

O episódio escancara um fenômeno cada vez mais comum no futebol e no jornalismo esportivo: a transformação de qualquer ruído em escândalo, mesmo quando não há base concreta. Um vídeo sem validade técnica virou “prova”. Uma limitação logística virou “censura”. A ausência de contexto virou combustível para engajamento.

No fim das contas, o Corinthians se classificou dentro de campo, o gol foi validado corretamente segundo as regras e protocolos disponíveis, e a suposta polêmica se mostrou exatamente isso: uma polêmica fabricada.

Fica a lição. Nem todo vídeo viral revela um erro. Nem toda ausência é censura. E nem toda indignação coletiva nasce da verdade — muitas vezes, nasce do sensacionalismo.

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