A violência voltou ao centro das atenções da população brasileira. Pesquisa Datafolha divulgada neste sábado (13) mostra que a segurança pública já é a segunda maior preocupação do país, citada por 16% dos entrevistados, ficando atrás apenas da saúde, com 20%. A economia, que até poucos meses atrás liderava o ranking, caiu para a terceira posição, com 11%.
O levantamento foi realizado entre os dias 2 e 4 de dezembro, com 2.002 pessoas em 113 municípios, e tem margem de erro de dois pontos percentuais. Os dados indicam uma mudança clara no foco das angústias da população: o medo da violência voltou a pesar mais do que questões ligadas ao bolso.
Ao longo do terceiro mandato do presidente Lula, a saúde permanece como um problema estrutural constante, oscilando entre 20% e 22% das respostas. Já a economia, que chegou a ser apontada como principal preocupação em 2024, perdeu força no segundo semestre deste ano. A segurança, por sua vez, teve um pico em setembro e, mesmo com leve recuo, segue em patamar elevado.
O recorte por gênero evidencia percepções distintas. Entre os homens, a segurança pública aparece como a principal preocupação, citada por 18%, superando a saúde. Entre as mulheres, a saúde lidera com folga (26%), seguida pela violência (13%) e pela economia (11%). Educação, desemprego, corrupção e fome aparecem em níveis menores, mas ainda relevantes.
Apesar de os números indicarem uma preocupação crescente com a violência, o tema segue sendo, historicamente, um terreno dominado pela extrema direita no discurso político. Setores mais conservadores conseguem transformar a insegurança em narrativa simples e direta, centrada quase exclusivamente em repressão, endurecimento penal e slogans fáceis — ainda que, na prática, suas gestões frequentemente não apresentem resultados estruturais consistentes na redução da criminalidade.
Do outro lado, a esquerda continua patinando na comunicação dessa pauta. Embora reconheça corretamente que desigualdade social, exclusão, falta de políticas públicas e ausência do Estado são fatores centrais para a violência, muitas vezes falha ao traduzir esse diagnóstico para a população. Ao evitar uma comunicação clara sobre punição e responsabilização criminal, abre espaço para que se consolide a percepção de que seria “antipunitivista” ou conivente com o crime.
Essa dificuldade de comunicação faz com que uma narrativa simplificada — a de que a esquerda “defende bandido” — encontre terreno fértil, mesmo quando não corresponde à realidade. O desafio está em construir um discurso que una duas dimensões que não são excludentes: enfrentar as causas sociais da violência e, ao mesmo tempo, garantir punição efetiva aos criminosos, com um sistema de justiça que funcione.
Os dados do Datafolha mostram que a segurança pública voltou a ser uma prioridade central para os brasileiros. Mais do que disputa ideológica, o tema exige respostas concretas e, sobretudo, uma comunicação mais honesta e eficiente com a população, sob o risco de continuar sendo explorado politicamente por quem transforma medo em capital eleitoral.


